Que seca! | Teresa sem medo

Que seca!

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Têm cerca de 13, 14 anos e, à exceção de um ou outro, não fazem a mínima ideia do que querem da vida, do que gostam, do que são capazes, do que os estimula ou entusiasma porque, na maior parte das vezes, a resposta a esta pergunta é vazia - é nada.

Não há nada que queiram realmente. Nada que sonhem à séria, nada que ambicionem a não ser comer um pacote de batatas fritas, ou um pão com chouriço, beber coca-cola e dormir. Dormir,  sempre que faz calor de mais. Dormir sempre que se sentem aborrecidos, e sentem-se aborrecidos quase sempre porque a vida, à exceção de alguns minutos em que trocam alarvidades proibidas, é aborrecida.

É uma seca.

Por outro lado, há muitas coisas que gostavam de ser, de ter, de fazer. Gostavam... mas não o suficiente para despenderem um quarto do esforço, da energia, que a realização de cada uma exigiria. São, por isso, desistentes. Daqueles desistentes que nem sequer chegam a dar início à corrida.

Parece que já nasceram cansados, desanimados, indiferentes.


O que é que está mal com estas crianças? O que é que sempre esteve, mais ou menos mal com todos nós? Porque é que somos um povo com comportamentos de derrota, de desistência, de adormecimento?

Porque não estamos, e creio que nunca estivemos, habituados a participar.  Estamos habituados a que tomem conta de nós, que decidam por nós, que mandem em nós. Protestamos, tal como as crianças protestam, porque o protesto é uma forma de apaziguar a nossa consciência. Uma forma que dá muito menos trabalho do que a participação e requer responsabilidade zero, enquanto a participação exige a responsabilidade total, e isso assusta.

Não fomos instruídos sobre as maravilhas que se escondem na vida quando ela é realmente dirigida por nós e a usamos para realizar os sonhos que verdadeiramente sonhamos porque acreditamos na sua possibilidade.


Se uma grande parte dos pré-adolescentes não sonha, é porque não acredita na realização dos sonhos. Porque sabe, de um saber feito da experiência que os seus sentidos vivem, que os sonhos são como o pai natal - uma invenção que não merece credibilidade alguma.


Cerca de 1930 já Piaget dava relevo ao método self-government. Dizia ele que este método deveria ser introduzido na Escola a partir dos 11-12 anos, dado ser uma idade em que o desenvolvimento moral já o permitia.

O self-government tinha em vista comprometer os alunos nas decisões tomadas na Escola, através da sua presença em reuniões e mesmo, em certos casos, do seu voto. Desta forma, caberia ao alunos elegerem os seus representantes para integrarem o governo da Escola, comprometendo-se a aceitar as regras por todos estipuladas.


Não é, na minha modesta opinião, tanto a prática que precisa de ser relevada, mas o princípio. O princípio do respeito, da atenção, do contar com, que não existe e, por não existir, deixa as crianças crescerem afastadas de tudo o que acontece, aproveitando, para si mesmas, o que lhes é prazeroso e conveniente como se elas, as crianças, existissem apenas para desfrutar e suportar as vontades dos adultos.

O método de Piaget não pode ser implementado apenas no governo da Escola. Já existem muitas escolas com alunos a participar do Conselho Diretivo e já se percebeu que isso, a beneficiar alguém, serão apenas esses alunos - os que participam diretamente -, porque os outros vivem à margem dessa prática.

"Este método deve igualmente ser implementado dentro das turmas onde regras disciplinares ou outras devem ser respeitadas por todos depois de discutidas e livremente aprovadas. Na opinião do autor [Piaget], esta é a melhor forma de desenvolver a formação de um espírito cívico, bem como um verdadeiro sentido de justiça, não havendo, tal como para a Educação Internacional, a necessidade de criar uma área disciplinar para abordar esta temática, mas antes fomentando a sua prática no quotidiano da actividade escolar (Piaget, 1930c; 1932a; 1934-35; 1934b)." *
* - Veiga Simão, Ana Margarida et alii, Psicologia da Educação - Temas de Desenvolvimento, Aprendizagem e Ensino, 
Organização de Guilhermina Lobato Miranda e Sara Bahia, 2005, Lisboa, Relógia d'Água Editores.

Como até aos dias de hoje ainda ninguém fez grande coisa e os meninos e meninas de 13, 14 anos continuam a adormecer sem grandes sonhos, o projeto educativo Mostra o Teu Herói® vai fazer - vai despertar, em todos os meninos e meninas que vierem ao seu encontro, a capacidade de sonhar e a autoconfiança necessária à realização, por todos e por cada um, dos sonhos sonhados.



Alda Couto,
Técnica Superior de Educação


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