agosto 2013 | Teresa sem medo

Mulheres Escondidas em Trabalho

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Quando o trabalho é um refúgio

Cada vez encontro mais pessoas imersas nesse lugar chamado “trabalho”, ou, como o definem, “carreira”. Este lugar de refúgio, não é mais, afinal, que um lugar de fuga. Um lugar que nos ajuda a enfrentar tudo o que de menos bom acontece na nossa vida.

O problema é que esta atitude de refúgio no trabalho, na carreira, gera preocupações enormes com questões como o sucesso, o nível de remuneração, as regalias, a produtividade e, por exemplo, o medo de falhar. Assim vivido, o trabalho como que adquire o seu sentido etimológico – tripallium (tortura). Ou seja, ao invés de nos proporcionar bem-estar, o trabalho transforma-se numa armadilha da qual nem sempre é fácil sair.

Esta armadilha leva-nos a gerir a nossa vida num caminho permanente rumo ao sucesso. Cabe perguntar: que sucesso? Creio sinceramente tratar-se de um sucesso que aposta pouco na pessoa enquanto pessoa. Desde logo, porque essa atitude obriga-nos a olhar para o nosso interior. E, descobrir que no nosso interior pode haver medo, solidão e tristeza é algo muito difícil. Talvez por isso muitas pessoas prefiram dar tanto de Si à profissão esquecendo-se em permanência de dar algo a Si mesmas.

Estamos numa Era de conhecimento e de proximidade facilitados de todos, entre todos. No entanto, esta Era é a mesma que nunca como antes produziu pessoas tão sós e com tanta dificuldade em gerir as suas emoções. Pessoas que se sentem tão pouco realizadas como pessoas.

Estamos tão preocupados em mostrar que somos capazes, em ser um modelo a seguir, uma fórmula para qualquer problema, que nos esquecemos de Ser. De Ser pessoas. De nos entendermos a nós próprios. De nos cuidarmos. De nos desculparmos quando não somos os melhores. Esquecemo-nos de nos vermos com carinho, de mostrar gratidão por aquilo que conseguimos. Por pouco que seja, conseguimos. Fomos nós!

Aprendemos de facto, bem cedo, a arte da submissão. E com ela a arte do medo. E depois do medo instalado, somos cada vez menos livres para seguir o caminho que consideramos ser o melhor para nós. Um caminho que afastamos porque antes, há sempre alguma coisa mais importante. E por isso adiamos decisões, geralmente as que são de facto cruciais para podermos mudar alguma coisa em nós e na forma como nos sentimos.

Talvez tenhamos de procurar respostas onde não temos coragem de ir porque essa procura nos obriga a sair da nossa zona de conforto, daquilo que já conhecemos. Aquilo que já conhecemos até pode ser bom e fazer-nos sentir seguros. Mas será que é aquilo que nos realiza efectivamente? Será que é aquilo que nos faz mais falta?

Talvez cheguemos à conclusão de que temos de começar de novo procurando alternativas para a vida que vivemos. Pode parecer complicado, mas começar de novo poderá significar apenas mudar pequenas coisas na sua vida. Como elogiar quem está ao seu lado, mais do que apontar os seus pontos fracos. Agradecer o que conseguiu fazer, mais do que lamentar-se pelo que não fez. Viver com mais leveza dando aos assuntos o seu peso real e não a carga que lhes confere. Disponibilizar tempo para estar com pessoas, mas pessoas de quem realmente goste e que lhe façam realmente bem.

Mesmo tropeçando, mesmo caindo, é muito importante que persista. É importante que não desista, mesmo quando parece que já não lhe restam forças. Verá que aos poucos vai começar a sentir-se melhor pois está usar a força do fazer. A força de fazer algo de novo. Ou de fazer algo antigo de forma diferente. Afinal, o que o está a impedir?

Teresa Marta